Audioguía ROTA 3. Um passeio através dos aromas

Ao atravessar qualquer uma das fronteiras abertas desta região, o ar começa a destilar os aromas da floresta mediterrânea, anunciando o pomar do Parque Natural e o prado. Aromas, sons e paisagens batem em uníssono no coração da terra e dos habitantes desta planura. Tem o nome popular de Valle de Los Pedroches que, na opinião de geógrafos e historiadores, "representa uma fantasia, uma exacerbação da verticalidade da paisagem - tão cara ao romantismo - e um devaneio literário alienígena e independente da geografia" (1). Romantismo e devaneio são as percepções daqueles que atravessam as fronteiras deste Vale dos Sentidos, com os aromas e sensações esquecidas que Juana Castro transforma em recreação e emoção. Cheiros antigos de estábulos e eiras, lavanda e alecrim, plantas silvestres e flores cultivadas, ornamentando os canteiros dos eremitérios e quintas, adornando praças e ruas, e impregnando os campos com todas as fragrâncias da primavera andaluza. E na alma das suas casas e das suas quintas, as mulheres, o fogo e o caldeirão, transmitindo aromas de tomilho, alecrim e hortelã, de carne e porco, de aperitivos de azeite, requeijão e açúcar, de doce e anis, com dedos artesãos de mãe e sabão de soda:

Fervia no caldeirão de bronze sobre o fogo.
A soda devorava a seiva da vida
e só ela conhecia as entranhas do milagre.
Imensa, arrefecia o bolo
da cor dos rios,
e depois cortá-lo
em pedaços quadrados perfumados e direitos. (2)

Este passeio faz parte de um Percurso Emocional com Juana Castro através de Los Pedroches, que pretende mergulhar-nos nas paisagens rurais e sentimentais do paraíso onírico que inspira a prolífica produção literária desta poetisa, académica, colunista, crítica literária e professora de várias gerações de escritores contemporâneos.

Nascida em Villanueva de Córdoba (Los Pedroches, 1945), Juana Castro foi pioneira na reivindicação do feminino no mundo rural e na história, a partir de uma terra - a sua - em que a devoção, a festividade e a vida quotidiana assumem a forma de mulheres.

A sua voz, invulgar e romântica, forma um singular inverso poético que nos chega endossado por inúmeros títulos, prémios literários e reconhecimento, desde a sua primeira colecção de poemas Cóncava mujer, (1978) até Antes que el tiempo fuera (2018). Foi distinguida, entre outros, com a Medalha da Andaluzia (2007) ou com o Prémio da Crítica Nacional (2010).

(1) Valle Buenestado, B. El mal llamado valle. En: Córdoba, 8/8/2008. Disponible en línea en
https://www.diariocordoba.com/noticias/opinion/mal-llamado–valle–pedroches_423172.html. [Consulta:
12/02/2020].

(2) Castro Muñoz, Juana. Jabón de sosa . 'En Del color de los ríos'. 2008.

Textos espanhol: Matilde Cabello

Tradução: Sérgio Sampaio de Carvalho

Locução: Carlos Flores

Fotos fornecidas por: 

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